quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


O NOIVADO DO SEPULCRO
BALADA
de Soares de Passos (1826-1860)
Vai alta a lua! na mansão da morteJá meia-noite com vagar soou;Que paz tranquila; dos vaivéns da sorteSó tem descanso quem ali baixou.Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longeFunérea campa com fragor rangeu;Branco fantasma semelhante a um monge,D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celesteCampeia a lua com sinistra luz;O vento geme no feral cipreste,O mocho pia na marmórea cruz.Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espantoOlhou em roda... não achou ninguém...Por entre as campas, arrastando o manto,Com lentos passos caminhou além.Chegando perto duma cruz alçada,Que entre ciprestes alvejava ao fim,Parou, sentou-se e com a voz magoadaOs ecos tristes acordou assim:"Mulher formosa, que adorei na vida,"E que na tumba não cessei d'amar,"Por que atraiçoas, desleal, mentida,"O amor eterno que te ouvi jurar?"Amor! engano que na campa finda,"Que a morte despe da ilusão falaz:"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda"Do pobre morto que na terra jaz?"Abandonado neste chão repousa"Há já três dias, e não vens aqui..."Ai, quão pesada me tem sido a lousa"Sobre este peito que bateu por ti!"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,A fronte exausta lhe pendeu na mão,E entre soluços arrancou do seioFundo suspiro de cruel paixão."Talvez que rindo dos protestos nossos,"Gozes com outro d'infernal prazer;"E o olvido cobrirá meus ossos"Na fria terra sem vingança ter!- "Oh nunca, nunca!" de saudade infindaResponde um eco suspirando além...- "Oh nunca, nunca!" repetiu aindaFormosa virgem que em seus braços tem.Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,Longas roupagens de nevada cor;Singela c'roa de virgínias rosasLhe cerca a fronte dum mortal palor."Não, não perdeste meu amor jurado:"Vês este peito? reina a morte aqui..."É já sem forças, ai de mim, gelado,"Mas inda pulsa com amor por ti."Feliz que pude acompanhar-te ao fundo"Da sepultura, sucumbindo à dor:"Deixei a vida... que importava o mundo,"O mundo em trevas sem a luz do amor?"Saudosa ao longe vês no céu a lua?- "Oh vejo sim... recordação fatal!- "Foi à luz dela que jurei ser tua"Durante a vida, e na mansão final."Oh vem! se nunca te cingi ao peito,"Hoje o sepulcro nos reúne enfim..."Quero o repouso de teu frio leito,"Quero-te unido para sempre a mim!"E ao som dos pios do cantor funéreo,E à luz da lua de sinistro alvor,Junto ao cruzeiro, sepulcral mistérioFoi celebrado, d'infeliz amor.Quando risonho despontava o dia,Já desse drama nada havia então,Mais que uma tumba funeral vazia,Quebrada a lousa por ignota mão.Porém mais tarde, quando foi volvidoDas sepulturas o gelado pó,Dois esqueletos, um ao outro unido,Foram achados num sepulcro só.- - - « « « «» » » » - - -
[1] Gravura de http://www.leonc.net/histoire/ballon/ballon.htm. Porque seleccionei esta gravura? Por três razões: a) a página correspondente conta uma história tétrica do balonismo; b) as épocas, mais ou menos, correspondem-se; c) a imagem desolada da gravura "bate certo" com o desolado da balada. Havia uma outra gravura possível e mais directa, com dois esqueletos arranjados numa tumba: achei-a, porém, de mau gosto - para já, salva seja esta opinião meramente pessoal, por me parecer dobrar aquela fronteira ténue e essencial, que separa o erotismo (na balada) da sugestão pornográfica (na montagem). "Et voilá!".
posted by LdS @
00:16

1 Comments:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS CAMPUS XXIV – XIQUEXIQUE – BA
DISCENTE – CASSIA BEZERRA E CLAUDIA BORGES
DOCENTE – MARLUCE SANTANA


ANÁLISE DAS OBRAS DE SOARES DE PASSOS



Em Portugal, Passos viveu grande parte da sua vida na carência do pai. O jovem poeta ingressou na faculdade em Coimbra, em 1849, para cursar direito e nesta mesma época junto com amigos fundou uma revista por nome Novo Trovador. Passando algum tempo de volta a sua cidade de origem, Soares de Passos tem algumas frustrações e começa a trabalhar em uma biblioteca e se dedica exclusivamente à literatura, contribuindo com dois grandes jornais de poesia “O Bordo” e “A Grinalda”, e na oportunidade escrevia seu volume de poesias.
A poesia, no seu sentido mais restrito, parte da linguagem verbal e, através de uma atitude criativa, transfigura-a da sua forma mais corrente e usual (a prosa), ao usar determinados recursos formais. Em termos gerais, a poesia é predominantemente oral - mesmo quando aparece escrita, a oralidade aparece sempre como referência quase obrigatória, aproximando muitas vezes esta arte da música. (WIKIPÉDIA)
A poesia é identificada como a própria arte, no entanto o autor utiliza essa linguagem criativa para descrever seus sentimentos mais profundos de forma verdadeira a espressar suas poesias, o que tem razão de ser qualquer arte é, também, uma forma de linguagem ainda que, não necessariamente, verbal.
O jovem escritor Soares de Passos começa a ser reconhecido pela sociedade portuguesa de sua época como um excepcional escritor crítico, especificamente de Alexandre Herculano, que o considerou em carta “o primeiro poeta lírico português deste século”.
A grandeza dos seus poemas lhe tornou um poeta de grande reputação, pois o mesmo escrevia seus poemas com autenticidade, já que o sofrimento de sua vida eram passados para seus poemas de forma real, uma vez que foi uma pessoa extremamente sofrida, ao contrair a tuberculose, conhecida antigamente de "peste cinzenta", sendo conhecida também em português como "doença do peito". É uma das doenças infecciosas documentadas desde mais longa data e que continua a afligir a Humanidade nos dias atuais, e que o deixou preso por muitos anos em seu quarto. No entanto isso esclarece a façanha de ter inserido nos seus poemas muito bem os chavões.

Os sentimentos são ingredientes imprescindíveis para os poemas de Soares de Passos, e um dos mais usados é a angústia, essa é a sensação mais próxima da morte que o poeta usa para representar o desgosto que encontrava em seu país. Essa aflição dramática talvez seja causa da visão trágica com que o trovador distinguia os defeitos da sociedade e do mundo.

A exaltação do cristianismo é presente nas obras de Soares de passos que dedicou parte dos seus poemas para louvar a Cristo e a Deus. Percebe-se a adoração em seu poema “O Gólgota”:, ” Ó Cristo! foi sublime a tua vida “, “ No amor, na crença, doutrinando o mundo/ Foste o Messias d’inspirado alento”. Retrata a adoração pelo clero e pela religião, apontando um tom moralizante, mostrando a concepção dos valores cristãos da sociedade.

Em “O Firmamento”, outro poema que foi bastante reconhecido em Portugal, o poeta emprega de utilizar o cientificismo e dos conhecimentos de astronomia para ressaltar, o quanto o homem é um ser pequeno e insignificante da terra e do universo diante das grandezas de Deus.

Passos, fez grande sucesso, inspirado no angustiante sentimento da presença prematura da morte, e foi publicada juntamente com todas as suas composições em uma coletânea intitulada " Também é encontrado nos poemas de Soares de Passos a admiração da natureza, em comparação a adoração em exaltar a religião e Deus, o poeta retrata a natureza de forma grandiosa e divina.” Canto da primavera” :”Cantai, ó aves a Jeová”. Assim se faz uma demonstração clara do amor pela natureza, sentimento este que percorre em grande parte dos poemas, Como em o “Desejo”, onde o autor menciona que“, a vida é só viva se o amor nela se acende”, nesta estrofe o poeta esta usando eu - lírico para ressaltar o poema.

o eu-lírico é um termo usado na lliteratura para demonstrar o pensamento geral daquele que está narrando o texto; A junção de todos os sentimentos, expressões, opiniões e críticas feitas pela pessoa superior ao texto, que no caso seria o narrador e/ou a pessoa central ao qual o texto está se referindo.( WIKIPÉDIA)


É recorrente a fascinação pelo amor e a morte, encontrado em “O noivado do sepulcro”, poema que deixou famoso o seu autor Antonio Augusto Soares de Poesias", em 1856. A morte neste caso era vista como uma forma positiva, onde une um casal de apaixonados que nem a morte os separou.” Dois esqueletos, um ao outro unido, / Foram achados num sepulcro só”. O desejo de amar é tão forte que o autor acreditava que eles ultrapassavam a morte levando o amor para toda eternidade.
A tristeza é recorrente na vida e nas poesias de Soares de Passos, por ser tão singelo, aparente parece que o autor sente inveja dos dois amantes reunidos no mesmo túmulo do cemitério. Na decepção o poeta infeliz crê na fatalidade, e relanceando os olhos para o seu passado medonho, percebe que o futuro não há de ser mais esplêndido.
No poema “O Noivado no Sepulcro” o desespero da vida terrena, o poeta volta os olhos para a vida celestial; mas um resto da ansiedade que lhe inspirou a contemplação das tristezas da existência, acompanhando-o por toda a eternidade. Portanto a literatura portuguesa perdeu um excelente autor, onde são poucas as poesias que nos deixou, mas valem mais do que a imensa bagagem dos outros.
As características mais claras de Soares de Passos são notáveis através da singelidade, na linguagem entrelaçada com uma notável elevação no estilo, à sensibilidade. Nota-se que suas idéias são grandiosas, mais tão espontânea que se sente que essas, e só essas, lhe poderiam ocorrer, no ardor da inspiração. Não inventava efeitos, procurando sempre está fazendo grandes obras.
Dessa forma também não podemos deixar de distinguir a simplicidade desafiadora nas obras de Soares de Passos. Este notável qualidade que o escritor tinha, além dos seus grandes dotes poéticos, um gosto apuradíssimo e muito cultivado.
Soares de Passos, como poeta, era infeliz, quando tratava destes assuntos de convenção sociais que quase todos os poetas tentavam se aproximar. O seu gênio levava-o sempre para fora dos trilhos vulgares. Quando alguns escritores portuenses queriam forçar a entrar neles, entrava, mas constrangido.
Soares de Passos não se entusiasmava com as glorias terrenas, ele preferia ver o reverso da medalha, ou nada dessas vaidades. Por isso, nas suas poesias, sente-se o talento, mas não sente à inspiração. É notável a utilização de uma forma métrica para onde Soares de Passos atirava de preferência as suas composições secundarias. Versos de sete sílabas, rimando o primeiro com o terceiro, o segundo com o quarto e com o oitavo, o quinto, o sexto e o sétimo entre si.
Portanto, é relevante que Soares de Passos seja diferenciado de todos os outros poetas por ser um autor de espontaneidade, originalidade de efeito natural nas suas obras. Enquanto os outros poetas tratavam esses assuntos elevados, fazendo comparações grandiosas, sendo a maior parte das vezes, falsas e absurdas.
O poeta ultra-romântico, além de usar seus sentimentos mais profundos para inserir em seus poemas, também usava um pensamento nacionalista, verdadeiro patriota que defendia o seu país. Este patriotismo reflete em alguns dos seus poemas onde se preocupa em ajudar sua nação, resgatando a sua origem, expressão tipicamente de um sonhador. Além do seu romantismo, era um homem com coragem de denunciar as injustiças sociais, e a para solução desses problemas a salvação era vinda de Deus, por meio da religião cristã, vista por ele como reparadora dos vícios da sociedade.
































REFERÊNCIAS:

Soares de Passos. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-01-15]. Disponível na www: .

Revista Crioula – nº 5 – maio de 2009. Artigos e Ensaios - Luciene Pavanelo

PASSOS, António Augusto Soares de. Poesias. Lisboa: Vega, 1983