sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

VIDA E OBRAS DE SOARES DE PASSOS.

Este blog pertence as alunas Cássia Ferreira e Claudia Borges da Universidade do Estado da Bahia uneb, do curso e Letras, e tem como objetivo mostrar a vida e obras de Soares de Passos.




Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


António Augusto Soares de Passos
António Augusto Soares de Passos (Porto, 27 de Novembro de 1826 – Porto, 8 de Fevereiro de 1860) foi um poeta, expoente máximo do Ultra-Romantismo em Portugal.
Nascido no seio da média burguesia comerciante portuense, viveu largas temporadas da infância com o pai ausente, fugido às perseguições que lhe moveram durante as guerras civis pelas suas ideias liberais, o que terá marcado o temperamento algo soturno do jovem António Augusto. Tendo aprendido francês e inglês durante a juventude, ingressou na Universidade de Coimbra, em 1849, para cursar Direito.
Em Coimbra conviveu com outros estudantes do Porto, como Alexandre Braga, Silva Ferraz e Aires de Gouveia, com quem fundou, em 1851, a revista Novo Trovador. Em 1854, já formado, regressou ao Porto e, depois de uma passagem pelo Tribunal da Relação do Porto, decide dedicar-se exclusivamente à literatura, colaborando activamente nos jornais de poesia O Bardo (1852-1854) e A Grinalda (1855-1869) e preparando a edição em volume das suas Poesias (1856).
Para a sua celebridade contribuiu não apenas a sua imagem de misantropo e a frequência dos salões portuenses, como também o bom acolhimento dos críticos, nomeadamente de Alexandre Herculano que, em carta, considerou Soares de Passos como "o primeiro poeta lírico português deste século" (referindo-se ao século XIX).
Sua qualidade pode ser creditada ao fato de ter escrito com autenticidade, pois os sentimentos derramados em seu texto são os que realmente viveu, já que foi pessoa extremamente sofrida, por vezes dominada por uma doença que, reza a lenda, deixou-o preso por anos em seu quarto. Isso explica a proeza de ter trabalhado muito bem com clichês que nas mãos dos outros poetas são extremamente ridículos. Melhor exemplo disso é "O Noivado no Sepulcro".
Seus poemas são fruto de uma angústia da sensação da proximidade da morte precoce mesclada ao desgosto pela situação em que se encontrava seu país. O incrível é que sabe alternar esses aspectos soturnos a momentos de extrema confiança na mudança das condições sociais. Essas oposições dramáticas talvez sejam a causa da visão trágica com que o poeta enxerga o mundo. Quando parte para a religião, enfoca a tragédia de Deus castigando todos; quando enfoca a História, mostra uma sucessão de episódios lastimosos; quando olha o cotidiano, enxerga somente a desgraça.
Sendo um poeta muito divulgado no seu tempo, morreu precocemente aos trinta e quatro anos, vítima da tuberculose, deixando um livro único – Poesias – onde confluem todas as tendências do imaginário poético seu contemporâneo

POEMA....

"O NOIVADO DO SEPULCRO
BALADA
de Soares de Passos (1826-1860)

Vai alta a lua! na mansão da morteJá meia-noite com vagar soou;Que paz tranquila; dos vaivéns da sorteSó tem descanso quem ali baixou.Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longeFunérea campa com fragor rangeu;Branco fantasma semelhante a um monge,D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celesteCampeia a lua com sinistra luz;O vento geme no feral cipreste,O mocho pia na marmórea cruz.Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espantoOlhou em roda... não achou ninguém...Por entre as campas, arrastando o manto,Com lentos passos caminhou além.Chegando perto duma cruz alçada,Que entre ciprestes alvejava ao fim,Parou, sentou-se e com a voz magoadaOs ecos tristes acordou assim:"Mulher formosa, que adorei na vida,"E que na tumba não cessei d'amar,"Por que atraiçoas, desleal, mentida,"O amor eterno que te ouvi jurar?"Amor! engano que na campa finda,"Que a morte despe da ilusão falaz:"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda"Do pobre morto que na terra jaz?"Abandonado neste chão repousa"Há já três dias, e não vens aqui..."Ai, quão pesada me tem sido a lousa"Sobre este peito que bateu por ti!"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,A fronte exausta lhe pendeu na mão,E entre soluços arrancou do seioFundo suspiro de cruel paixão."Talvez que rindo dos protestos nossos,"Gozes com outro d'infernal prazer;"E o olvido cobrirá meus ossos"Na fria terra sem vingança ter!- "Oh nunca, nunca!" de saudade infindaResponde um eco suspirando além...- "Oh nunca, nunca!" repetiu aindaFormosa virgem que em seus braços tem.Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,Longas roupagens de nevada cor;Singela c'roa de virgínias rosasLhe cerca a fronte dum mortal palor."Não, não perdeste meu amor jurado:"Vês este peito? reina a morte aqui..."É já sem forças, ai de mim, gelado,"Mas inda pulsa com amor por ti."Feliz que pude acompanhar-te ao fundo"Da sepultura, sucumbindo à dor:"Deixei a vida... que importava o mundo,"O mundo em trevas sem a luz do amor?"Saudosa ao longe vês no céu a lua?- "Oh vejo sim... recordação fatal!- "Foi à luz dela que jurei ser tua"Durante a vida, e na mansão final."Oh vem! se nunca te cingi ao peito,"Hoje o sepulcro nos reúne enfim..."Quero o repouso de teu frio leito,"Quero-te unido para sempre a mim!"E ao som dos pios do cantor funéreo,E à luz da lua de sinistro alvor,Junto ao cruzeiro, sepulcral mistérioFoi celebrado, d'infeliz amor.Quando risonho despontava o dia,Já desse drama nada havia então,Mais que uma tumba funeral vazia,Quebrada a lousa por ignota mão.Porém mais tarde, quando foi volvidoDas sepulturas o gelado pó,Dois esqueletos, um ao outro unido,Foram achados num sepulcro só.- - - « « « «» » » » - - -
[1] Gravura de http://www.leonc.net/histoire/ballon/ballon.htm. Porque seleccionei esta gravura? Por três razões: a) a página correspondente conta uma história tétrica do balonismo; b) as épocas, mais ou menos, correspondem-se; c) a imagem desolada da gravura "bate certo" com o desolado da balada. Havia uma outra gravura possível e mais directa, com dois esqueletos arranjados numa tumba: achei-a, porém, de mau gosto - para já, salva seja esta opinião meramente pessoal, por me parecer dobrar aquela fronteira ténue e essencial, que separa o erotismo (na balada) da sugestão pornográfica (na montagem). "Et voilá!".